ARTISTAS
Henrique Pavão
Waiting Around to Die
de 26 de Janeiro a 8 de Março
de 2024
Abertura dia 26 de Janeiro das 15h30 às 18h30
Waiting Around to Die
Andar por aí à espera de morrer.
Henrique Pavão (1991) é o artista da sétima e última exposição da segunda parte do projecto da Galeria da Casa A. Molder. Waiting Around to Die [Andar por aí à espera de morrer] é o título da exposição pensada e criada para este espaço.
Andar por aí ao Deus-dará, à espera de morrer, ou a fazer tempo para que o derradeiro momento chegue. “Fazer tempo” enquanto nos destruímos e esperamos pela morte é o martírio que ouvimos pela voz de Townes Van Zandt em “ Waiting Around to Die” (1968), uma música predilecta, que Henrique Pavão, escolheu para título da sua exposição.
O artista está prestes a perder algo.
Numa instalação sonora, próxima da land art, Henrique Pavão prepara-se para uma mudança. Um filme está a ser feito, fotografias estão a ser tiradas e há um som: o acorde de ré menor que é tocado numa guitarra eléctrica pela intempérie, pela natureza e pelo acaso.
É deste projecto, que está ser feito (e em aberto), naquela paisagem portuguesa que, num certo imaginário, vai ao encontro do género western do cinema, que a exposição da Galeria da Casa A.Molder aparece.
Há aqui um encontro, uma descoberta e um engano.
Henrique Pavão encontrou numa das suas deambulações pela paisagem que tão próxima lhe é, a do Alentejo, um crânio de vaca. Um animal que quase de certeza morreu à sede. Não são quilómetros e quilómetros de pradaria ou deserto que Pavão encontra nos seus passeios, mas, neste pequeno pedaço de terra, por vezes parece que estamos tão entregues à impetuosidade da natureza como nas grandes extensões de terra de outros lados do globo, mas não estamos. Apenas estamos entregues à indiferença e à impotência de quem cuida ou deixa de cuidar destas terras.
O crânio deixou de ser osso para ser bronze, e tem uma marca: o acorde de ré menor em cifra, que Pavão traz do seu outro projecto. Este acorde é, na música ocidental (e não só), o acorde da tristeza e da inquietação.
Como já disse, o artista prepara-se para perder algo e ao fazê-lo constrói a sua obra. À espera da morte está também o espaço da exposição, a Galeria da Casa A. Molder. Tanto Henrique Pavão como o espaço onde ele mostra estas peças em bronze, um crânio de vaca e um imenso fio que ligaria uma guitarra eléctrica a um amplificador, trazem consigo a perda. Este é o encontro. Pavão coloca os seus bronzes que vão oxidando, pois não foram vedados propositadamente, num espaço que é, ao mesmo tempo, deserto e oásis.
O que fazemos enquanto esperamos por morrer? O cantor descreve o triste caminho de quem nunca foi cuidado, até ao vício, que sempre é uma maneira de esperar por morrer. Mas o artista não espera. O artista luta contra a morte ao fazer, ao criar, ao encontrar, é desta luta que as esculturas aparecem. Henrique Pavão não quer perder algo, mas a perda é inevitável, e para a “cristalizar” temos este espaço, perdido no tempo, um fosso que nos lembra algo que ainda há tão pouco tempo fazia parte do nosso imaginário colectivo de cidade, e agora está a deixar completamente de existir.
É aqui, neste local de perda absoluta, que iremos encontrar as esculturas de Henrique Pavão, e é aqui que esperaremos, bem atentos e entregues, por morrer.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 18h30, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Sara & André
Filatelia
de 10 de Novembro de 2023 a 12 de Janeiro de 2024
Abertura dia 10 de Novembro das 15h30 às 18h30
Sara & André (1980 e 1979) são os artistas da sexta exposição da segunda parte do projecto da Galeria da Casa A. Molder.
Filatelia é o título da exposição por eles pensada e criada para este espaço.
Em Filatelia os artistas começaram por ser espectadores. Com um olhar atento, viram todas as exposições do projecto da Galeria da Casa A. Molder e passaram a ter com este lugar, fora do tempo, uma relação de grande proximidade. Tão presente como necessária neste projecto, a arquitectura do espaço – um ruído – entra directamente nesta peça na forma de uma maquete. Sara & André costumam fazer maquetes das suas futuras exposições, não maquetes de arquitecto, mas objectos quase escultóricos, feitos com materiais simples e sustentáveis, que os ajudam a perceber o desenho espacial das obras que irão expor. Essas versões das obras em miniatura que os dois artistas colocam nas maquetes tornam-se para eles em pequenos e atraentes objectos de que têm dificuldade em se livrar.
Para esta exposição Sara & André fizeram uma maquete, não só do espaço da Galeria da Casa A. Molder, mas também do espaço total que engloba a frente da loja e os inúmeros espaços a que o público não tem acesso. De público passaram a arquitectos da exposição ou “desenhadores” da mesma. Só que, desta vez, a maquete não é uma experiência de possibilidade, mas sim a obra em si mesma. Esperem ainda, porque de arquitectos os artistas passaram a curadores e a coleccionadores.
O que vai estar “exposto” nesta peça-maquete são selos escolhidos e comprados na loja de Filatelia A. Molder, que acolhe as exposições.
Sara & André vieram ao longo do tempo, nas suas inúmeras visitas à loja, como fazem os coleccionadores de filatelia, apurando e reduzindo a escolha de selos que representassem obras de arte, na sua maioria pinturas, mas também esculturas. Os selos que escolheram e compraram na loja são provenientes de países tão diversos como: Congo, Portugal, União Soviética, França, Polónia, entre outros, e reproduzem obras de artistas tão distintos como Ghirlandaio, Paula Rego, Picasso, Jawlenski e outros a descobrir.
Estes selos (mostrados com a tira de protecção usada pelos filatelistas e que dá ideia de moldura) estão colocados na maquete como as obras de arte duma futura exposição, tendo em conta as ligações que os artistas encontraram nas obras destes seus pares.
Mas Filatelia não é para um futuro, Filatelia é a peça que vão expor na Galeria da Casa A. Molder, que liga um passado obsoleto – dos selos como a grande possibilidade de sonhar fora de portas, dum valor que quase já não existe e duma troca de mensagens que nos parece imensamente longínqua – com a exposição que mostram no presente deste espaço. Somos Gulliver a espreitar para Lilliput, somos crianças a imaginar quem habita esse espaço em miniatura e somos caminhantes, de tal forma amantes de arte, que pela maquete encontramos um museu imaginário, imaginado por Sara & André.
De Filatelia pode dizer-se que é uma “obra de arte total”.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 18h30, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Hugo Brazão
Toad on the Moon
de 27 de Julho a 31 de Julho
e de
1 de Setembro a 3 de Novembro de 2023
Abertura dia 27 de Julho das 15h30 às 18h30
Hugo Brazão (1989) é o artista da quinta exposição da segunda parte do projecto da Galeria da Casa A. Molder.
Toad on the Moon [Sapo na Lua] é o título da exposição, que o artista concebeu para este espaço.
De cores fortes e quase lúdicas, que muitas vezes associamos à Pop Art, em diferentes materiais como tecido, madeira, resina, pigmentos e lã, Hugo Brazão fala-nos do inevitável.
Toad on the Moon ou Sapo na Lua são esculturas, um clarão de cor com materiais que contrastam com o espaço da galeria: parado no tempo, de cores velhas e esbatidas como uma água parada, um lago que acolhe as suas peças. As duas esculturas, uma em tecido e madeira e outra em resina, pigmento e lã, contam-nos as maravilhas que se vêem na lua, esse satélite da terra tão a ela ligado como cobiçado. Os rostos que vemos na lua são, em muitas e diferentes culturas, silhuetas de animais. Por exemplo, na tradição chinesa o sapo, esse animal mal visto pelo Ocidente, ligado ao medo da escuridão, hediondo e desajeitado, é o animal que se vê na Lua. Uma deusa transformada em sapo depois de para lá ter fugido com o dom da imortalidade.
É um desenho do sapo, essa silhueta com as quatro patas no chão, que vemos em lã num circulo, dentro da peça de parede em resina, numa inusitada mistura de matérias, bordada por Hugo Brazão. Para além das maravilhas mitológicas, pensamos também neste “bom jardineiro” de má fama, como o sujeito das mais terríveis experiências científicas. E é aqui, na escultura de chão, que faz lembrar uma labareda de tecido com o seu interior lunar, que a analogia entre o sapo que vai sendo lentamente aquecido, adaptando-se às altas temperaturas que o vão exterminar, e a nossa situação na terra, ameaçada em crescendo pelo aquecimento global, é activada. O sapo na lua, deusa de luz reflectida, a lua associada às palavras loucura e louco, a irracional e esbanjadora vontade de voar até à Lua enquanto o paraíso terreno é destruído. Tudo isto é-nos mostrado por formas simples, plásticas e cores fortes, por materiais maleáveis que nos são próximos, tácteis e visualmente estimulantes, em desenhos que se evidenciam.
Hugo Brazão mostra-nos com algum deleite o apocalipse.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 18h30, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Rui Sanches
São Dinis de Paris?
de 11 de Maio a
8 de Julho de 2023
Abertura dia 11 de Maio das 15h30 às 18h30
Rui Sanches (1954) é o artista da quarta exposição da segunda parte do projecto da Galeria da Casa A. Molder.
São Dinis de Paris? é o título da instalação que dá o nome à exposição e que o artista concebeu para este espaço.
Entramos na galeria. Algo mudou. De um mundo fez-se dois e não sabemos de que lado estamos. Passearemos do outro lado do espelho ou estaremos prestes a entrar no mesmo? Ficaremos presos se passarmos o arco? Teremos coragem de o fazer?
Sim, já a tivemos muitas outras vezes, mas desta vez algo nos diz que podemos perder a cabeça. Do título, São Dinis, o santo mártir padroeiro de Paris, de quem se diz ter percorrido duas milhas com a sua própria cabeça entre as mãos, após ter sido degolado - e a pregar, do Monte dos Mártires (Montmartre) até à sua igreja.
Em São Dinis de Paris? a cabeça aparece duplamente, tal como todos os fragmentos transformados em caixas. São de madeira e já não estão vivas,porém não temos nenhuma certeza de que dentro delas não estejam relíquias.
Mas tomemos atenção, há ainda o espelho que de pequeno se transforma num todo envolvente. É este pequeno espelho que nos obriga a ter a coragem para passarmos para o outro lado. Deste e do outro há ainda as janelas. Outrora estavam lado a lado. Agora, fazem um frente-a-frente. Reparem: já não são janelas, mas sim portas. Os seus espelhos vão fazer do nosso corpo fragmentos e provavelmente separar-nos a cabeça do corpo.
Antes de fazermos a passagem para o outro lado, por segurança, podemos espreitar pela longa e esguia caixa. Talvez consigamos ver o outro lado, ou talvez nos vejamos a nós próprios: fragmentados, desorientados, maravilhados.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 18h30, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Joana da Conceição
O Espelho em Mim
de 17 de Março a
5 de Maio de 2023
Abertura dia 17 de Março das 15h30 às 18h30
Joana da Conceição (1981) é a artista da terceira exposição da segunda parte do Projecto da Galeria da Casa A. Molder.
O Espelho em Mim é o título da exposição que foi pensada e criada para este espaço.
Numa pintura, três figuras parecem observar-nos. Estão unidas por linhas, pela repetição; sabemos que são figuras porque têm olhos e as linhas parecem ser mãos numa posição muito particular. Dizem-nos que estes rostos nos observam. Electrificantes, são as cores usadas e o movimento sugerido. Se olharmos com atenção, descobrimos que estão ligadas a uma quarta, imponentemente escondida. É uma silhueta da morte, com um desenho de caveira que poderia ser também uma borboleta. Há um certo caos de cores, linhas e movimento, há inquietação. Dar a Ver é o título desta pintura e, nas palavras da artista: “Trata-se de uma representação de um continuum, e funciona como um friso, na figura de um meandro, em repetição. As três figuras vêem – são-lhes dados olhos para verem – pela figura acima delas, que está morta. Esta última é a representação de uma qualquer mulher que me precedeu e me ensinou”.
“A maior parte do tempo medito sobre a parede oposta.
É cor-de-rosa com manchas. Tenho-a olhado tanto
Que julgo ser parte do meu coração. Mas vacila.”
Esta é a parte do poema Espelho de Sylvia Plath que mais influenciou a construção desta exposição e o seu título, O Espelho em Mim. A artista como espelho, a pintura como reflexo e reflexão. Há ainda os sonhos, recorrentes, sonhos de casas em que a descoberta duma divisão, cuja existência era até então ignorada pela artista, revela-lhe a maturidade e a aceitação de não sabermos que idade temos. E ainda a luta permanente entre aquilo que somos e a percepção que os outros têm de nós. É aqui que Joana da Conceição, que vai ao encontro de histórias de mulheres de outros tempos, cuja transgressão, quase sempre motivada por aquilo a que a artista chama “febre de amor”, nos revela uma força que merece ser sublinhada. Ao ir ao encontro destas histórias, Joana da Conceição dá-lhes peso e continuidade, tira-as do esquecimento. Encontra nelas também um espelho que nos mostra uma sexualidade e uma inconformidade como reacção ao ambiente sufocante e injusto da passagem das suas vidas por esta terra.
À estranheza desta pintura junta-se, do outro lado da parede, aquilo que a artista vê como uma credência desconstruída. In Media Res é o titulo desta instalação. Neste “altar” de linhas curvas, que fazem lembrar os ossos da bacia, e cores atemporais, estão falsamente pousadas outras pinturas, que se destacam da parede tanto pela colocação no espaço como pela paleta usada. Encontramos também aqui pequenos elementos escultóricos que criam a possibilidade da instalação das pinturas no espaço e, ao mesmo tempo, as transformam: as linhas rosas que transformam uma das pinturas num estranho rosto. Pintura que quer sair do plano para se transformar em algo mais.
Alguns desses elementos, a que a artista chama “bichos”, são construídos em bambu e unhas falsas. Reconhecemos aqui qualquer coisa de morte, ligação que vemos todos os dias à nossa volta e da qual nos parece impossível livrarmo-nos.
A pintura de Joana da Conceição vive de um intenso diálogo entre aquilo que inspira a artista e uma forma de pintar com regras muito precisas, que passam por um jogo entre a obediência e a aceitação do corpo e das suas necessidades, e um permanente questionamento do acto de pintar. Não é uma pintura óbvia nem fácil, embora à primeira vista nos engane, talvez pela paleta de cores garridas e alegres e elementos que nos parecem familiares. Existe nestas pinturas um perfume de morte. Tal como no Espelho de Plath.
Espelho
Sou prata e exacta. Não tenho ideias preconcebidas.
Tudo o que vejo aceito sem reservas
Tal como é, inturvado por aversão ou amor.
Não sou cruel, apenas verdadeira –
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
A maior parte do tempo medito sobre a parede oposta.
É cor-de-rosa com manchas. Tenho-a olhado tanto
Que julgo ser parte do meu coração. Mas vacila.
Rostos e trevas separam-nos vezes sem conta.
Agora sou um lago. Uma mulher curva-se sobre mim,
Sondando o meu âmbito em busca do que ela é realmente.
Vira-se depois para as velas ou a lua, esses mentirosos.
Vejo-lhe as costas e reflicto-as fielmente.
Ela recompensa-me com lágrimas e um agitar de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
Todas as manhãs é o seu rosto que substitui as trevas.
Em mim ela afogou uma jovem e em mim uma velha
Ergue-se para ela dia após dia como um terrível peixe.
Sylvia Plath
leituras poemas do inglês
trad. joão ferreira duarte
relógio d´água
1993
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 18h30, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Mariana Viegas
Entrada
de 13 deJaneiro a
24 de Fevereiro de 2023
Abertura dia 13 de Janeiro das 15h30 às 18h30
Mariana Viegas (1969) é a artista da segunda exposição da segunda parte do Projecto da Galeria da Casa A. Molder.
Entrada é o título da exposição que foi pensada e criada para este espaço.
Mariana Viegas tem um arquivo considerável de fotografias que foram tiradas, pensadas e criadas em momentos e anos diferentes. É deste enorme corpo de trabalho que surgem os dois conjuntos de fotografias que compõem esta exposição.
Entrada simboliza uma passagem de um mundo para outro. Nas palavras da artista: “Entrar é a condição necessária para iniciar um caminho, guiado pela curiosidade da experiência em si e onde um corpo se entrega a um espaço.”
Entrada é também uma iniciação. E, neste caso, uma herança. Das fotografias de escavações arqueológicas, íntimas e livres, do pai da artista, ficou o amor às imagens, à fotografia, também ao caminho, ao mistério, à terra escavada e ao segredo da escala.
Não se pode dizer que estas imagens, divididas claramente em dois grupos, queiram ser objectos arqueológicos ou representem algum tipo de arquivo, mas aqui existe também uma vontade de categorizar certos atributos daquilo que foi fotografado. Encontramos o amor ao caminho, à persistência, à fragilidade e ao mistério que é a vida: onde nos leva, onde nos pode levar e também a serenidade estranha que pode ser o fim abrupto da mesma. Falo das imagens: da fotografia do caracol e do seu rastro sobre aquilo que nos parece um caminho quase dourado, da mão que segura uma semente dum cardo Mariano, ou leiteiro, uma planta tão generosa como distinta. Falo do buraco escuro na vegetação, naquilo que pode ser o princípio ou o fim dum caminho, também apenas uma possibilidade e um mistério. Todas estas imagens são a cor: a única fotografia a preto e branco é a do suicida, já tapado com um pano. Uma imagem poderosa e estranhamente serena, como se o calor da tarde e o sol que nos mostra o recorte das inúmeras janelas fossem convidativos – a vida continua. Há ainda uma pequena cilada: entre estas fotografias de Mariana Viegas encontramos uma única que não é sua, mas sim do seu pai, em que umas mãos (as da mãe da artista) seguram um objecto de vidro.
Do forte simbolismo que encontramos neste primeiro conjunto de fotografias (obras de vários anos entre 1990 e 2022), avançamos para o outro, fotografias que Mariana Viegas tirou no início dos anos noventa. Objectos reais, concretos, que parecem ser do dia-a-dia, são-nos apresentados sobre um mesmo fundo de falso mármore. Entre eles, uma lâmina de abrir envelopes, um pisa-papéis de barro, uma caixa de tabaco, um alfinete onde se lê “Não me beijes”, uma fotografia manchada por mercurocromo.
São dois mundos diversos, mas não opostos. De um lado, temos presenças, ligações e símbolos que, embora absolutamente terrestres, nos levam através da luz, da cor e da sombra, a qualquer coisa que poderíamos chamar etérea. Do outro, a vontade de categorizar com precisão a matéria, de uma maneira em que poderíamos supor que houvesse ligações ou até uma narrativa, mas não há, e é isso que torna este conjunto tão surpreendente, como se a artista encontrasse na continuação, neste ritmo de mostrar, nesta rotina, uma maravilha.
Entremos então.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 18h30h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
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Carla Castiajo
Colecção Compulsiva
de 3 de Novembro a
30 de Dezembro de 2022
Abertura dia 3 de Novembro das 15h30 às 18h30
Carla Castiajo (1974) é a artista da primeira exposição da segunda parte do projecto da Galeria da Casa A. Molder.
Colecção Compulsiva é o título da exposição, pensada e criada para este espaço. O trabalho desta artista vive do encontro entre joalharia e escultura, entre aquilo que é criado para ser usado no corpo e aquilo que é criado a partir deste enquanto modelo, entre a matéria que provém do corpo e aquilo que lhe é estranho, entre a leveza, o peso e a resistência. Objectos extremamente delicados, mas profundamente dúbios, que provocam atracção e, ao mesmo tempo, repulsa, são uma constante no seu trabalho.
Carla Catiajo constrói, com cabelo humano (uma das matérias favoritas da artista) e também com couro ou pele, esculturas que não são mais do que estranhos e fascinantes objectos, dos quais não temos certeza de serem corpos vivos, impregnados de sexualidade, ou restos daquilo que foi a vida, causando susto e levando-nos a questionar a nossa presença.
Uma cortina feita de cabelo humano divide o espaço da galeria. Numa das salas, num dos seus cantos, está aquilo que parece ser um casulo. É uma porção de cabelo humano, o cabelo da própria artista, coleccionado e armazenado por ela, uma escultura que vai aumentando desde 2012. Com as suas mãos cria emaranhados que nos parecem ser pequenos casulos, matéria viva e em crescimento: Obscene Corner [Esquina Obscena] é o título desta escultura. Se formos capazes de passar pela cortina de cabelo, peça a que a artista chamou Sensual, encontraremos
Voluptuous [Voluptuosa]: uma bacia ou um bidé contém algo que nos lembra ao mesmo tempo pernas, pés e orgãos sexuais; é um objecto que tem tanto de escatológico como de delicado, feminino e íntimo (e tanto pode lembrar Tom Wesselmann como Louise Bourgeois).
O trabalho de Carla Castiajo exige da parte do espectador uma mesma dose de coragem e sensibilidade. Sobre a sua matéria de eleição, o cabelo humano, diz a artista: “Eu colecciono o meu cabelo que cai ou o cabelo dos outros, o cabelo que me é oferecido ou cabelo que eu compro... Fios de cabelo prenunciam a ausência de um corpo, mas esses cabelos podem ser usados e utilizados de forma a preservar a memória de um indivíduo... Uma peça feita com cabelo pode causar diferentes reacções – pode aproximar ou afastar, atrair ou repelir. O cabelo humano é um dos nossos materiais mais delicados. O cabelo sobrevive-nos. É um elemento fundamental do corpo humano, um elemento imortal que faz parte dos nossos corpos mortais.”
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 18h30, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Sandra Vásquez de la Horra
Cambio de Piel
de 12 de Maio a
29 de Julho de 2022
Abertura dia 12 de Maio das 15h30 às 19h
Cambio de Piel [Mudar de Pele] é o título da exposição que
Sandra Vásquez de la Horra (1967) concebeu para a Galeria da Casa A. Molder. Esta é também a décima e última exposição da primeira parte do projecto, que começou em Novembro de 2020.
Cambio de Piel é um conjunto de catorze desenhos da colecção particular da artista, que os reuniu para esta exposição e que poderemos ver com a grande intimidade que o espaço da Galeria permite.
Desenhos como Santa Muerte, Aguas Profundas, Señorita Amordazada, El ideal de una Cavalera, El Señor Ciervo, Ex-Votos, presentes nesta exposição, são trabalhos históricos de Sandra Vásquez de la Horra, nascida em Viña del Mar, no Chile, e que vive há muitos anos em Berlim.
O mundo desta artista é o do desenho e dos seus instrumentos: o papel, o traço, a grafite e a cera, utilizados na maioria dos seus trabalhos. Através deles, as suas mãos mostram-nos um grande mundo, tão contemporâneo e tão antigo como a história do ser humano.
Na maior parte femininas, as figuras nos seus desenhos mostram-nos que não só o que está dentro do corpo, os nossos limites e medos é algo que temos em comum, mas também os mitos e as histórias ligadas à religião. O corpo é finito e a morte é certa. Porém, é sempre com grande sentido de humor e de uma forma profundamente poética (e por vezes romântica) que de la Horra nos mostra como as maiores injustiças, os limites e as incertezas da vida humana, podem ser também a nossa estrutura e a nossa força.
A obra de Sandra Vásquez de la Horra é também o resultado dum encontro geográfico e cultural entre a América do Sul e a Europa, que se traduz nos seus trabalhos pelo poder magnético e quase esotérico que estas figuras têm sobre nós, como podemos ver em La Dama del Castillo Encantado e em Santa Muerte, entre outros.Para reconhecermos os mundos distantes que se encontram à frente dos nossos olhos contribui a maneira como a artista faz as montagens das suas exposições, criando ligações entre trabalhos, realçando tamanhos, figuras e temas duma forma quase serpenteante. Estes desenhos vão engolir-nos, como é engolida a figura do desenho em Anaconda, mas também nos vão fazer rir e sonhar, como a figura de El Señor Ciervo ou a de Aguas Profundas.
Talvez aquilo que mais tememos seja também aquilo por que mais ansiamos, uma das evidências com as quais somos confrontados ao vermos estes desenhos de vários formatos (grande, médio e pequeno) em Cambio de Piel.
Sandra Vásquez de la Horra Press
A Exposição de Sandra Vásquez de la Horra prolonga-se até final de Julho. Em Agosto, a loja e a Galeria encontram-se encerradas, voltando a abrir com a segunda parte do projecto em Setembro de 2022.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Bruno Pacheco
Um dois, esquerdo direito
de 24 de Março a
6 de Maio de 2022
Abertura dia 24 de Março das 15h30 às 19h
Bruno Pacheco (1974) é o artista da nona exposição da Galeria da Casa A. Molder.
Um dois, esquerdo direito é o título dessa exposição, pensada para a Galeria da Casa A. Molder.
Somos saudados por alguém que, em fotografias animadas e assim transformadas num vídeo, nos faz a continência. À primeira vista pode parecer um soldado; está vestido de verde tropa, tem um capacete e usa uma luva nessa mão que nos dirige um gesto que é, ao mesmo tempo, simbólico e determinado. Esse alguém é o artista. Agora, com mais atenção, vemo-lo apetrechado com godés de pintura em forma de capacete, uma camisola velha e uma luva, claramente também usadas no atelier, e este gesto começa a parecer-nos pueril e cómico.
É um assunto muito sério o da pintura, em particular a pintura de Bruno Pacheco. Tão sério que o leva, como nesta exposição e ao longo da sua carreira, a criar objectos escultóricos que são tão pictóricos e conceptuais quanto as suas pinturas.
A quem faz o soldado Pacheco a saudação, a continência? Ao público? À pintura, tal como ele viu na China os soldados fazerem o render da guarda ao retrato de Mao?
Na parede vemos um arco cor-de-rosa, com uma pala. Este rosa é uma cor que Bruno Pacheco criou para esta peça, anteriormente de exterior e que agora passa a ser de interior. É uma porta que nos convida a entrarmos numa parede; como uma pintura, como um objecto nonsense, como uma réplica de exterior do arco existente que divide as pequenas salas da galeria. Sobre a cor desta peça, diz: “se reparares, a cor destas grades (do atelier) fui eu que a criei, ela não existia e depois copiou-se para todos os outros estúdios”. Uma tarefa tão lógica quanto rara.
E o soldado Pacheco continua a fazer a continência.
Pequenas vitórias é uma peça em resina amarela, um amarelo que nos é familiar, pois vemo-lo na fita-cola de pintor. Esta peça é um outro arco exposto numa parede. É um arco que dá continuidade ao da sala, como se nos convidasse a entrar num corredor imaginário, a sair, abrindo o espaço confinado da exposição. Esta peça é feita usando como modelo as pequenas cunhas de madeira que se usam para fixar as grades das telas. Aqui, e mais uma vez, os objectos do quotidiano do pintor unem-se para criar algo novo. As pequenas e invisíveis peças, que geram estabilidade, foram congregadas pelo artista, que lhes deu grandeza escultórica ao transformá-las numa figura geométrica, sendo que esta é também pinturesca.
Podemos afirmar que a obstinação e a incapacidade de obedecer a essa figura de autoridade que é a pintura faz parte do trabalho de Bruno Pacheco, tanto como a total entrega e reverência com que ele vive a pintura.
E o soldado Pacheco continua a fazer a continência.
Um especial agradecimento a Gonçalo Jesus e Matteo Consonni.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja.
Carla Rebelo
Geologia de um lugar
de 4 de Fevereiro a
18 de Março de 2022
Abertura dia 4 de Fevereiro das 15h30 às 19h
Carla Rebelo (1973) é a artista da oitava exposição da Galeria da Casa A. Molder.
Geologia de um lugar é o título da instalação que vai ocupar as duas salas da Galeria e que dá título à exposição, nas palavras da artista “uma certa ideia de passagem do tempo neste lugar”.
As linhas de pregos existentes nas salas, que foram em tempos passados (quando a loja era também uma galeria comercial) usadas para pendurar quadros e gravuras, foram o mote para Carla Rebelo, que habitualmente trabalha em instalações e esculturas criadas para um sítio específico. Em cada parede, a artista contou 66 pregos e criou com fio branco, a partir do chão, na zona do arco que divide as duas salas, dois planos de rampa que se apoiam nestas linhas de pregos. A artista é precisa e conta “66 pregos em cada parede, 132 no total. Cada prego sustentará 2 fios, cada fio será suspenso por um peso de 40 gramas. 264 fios, 10,56 quilos. Estas são as coordenadas do espaço e do tempo da Geologia deste lugar.”
Em rigor, esta exposição é construída a partir das particularidades destas velhas salas. São elas a ditar a construção e a direcção dos fios que, embora leves e quase invisíveis, nos limitam no espaço e são uma força capaz de dar estrutura, uma estrutura tão perene quanto efémera.
Geologia de um lugar evoca também o desenho, não só dado pelas paredes de linhas, mas também pelas sombras que elas fazem no espaço. Por outro lado, observa-se ainda a fabricação dum tecido, tecido neste tear que é feito a partir deste espaço. Um tecido de tempo que já passou, que passou por nós e antes de nós. A história de um lugar. O tempo que vem antes de nós, a marcação da artista que assim deixa também a sua marca no espaço e constrói ela mesma a história deste lugar. Como boa aranha, Carla Rebelo apanha-nos na sua teia, esta compele que a contemplemos e ao fazê-lo confrontarmo-nos com o nosso próprio tempo e a nossa existência.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja.
João Belga
I'm Alive - Yet I'm Not Alive
de 9 de Dezembro de 2021
14 de Janeiro de 2022
Abertura dia 9 de Dezembro das 15h30 às 19h
João Belga (1968) é o artista que nos apresenta a sétima exposição da Galeria da Casa A. Molder. I’m Alive – Yet I’m Not Alive [Estou vivo – no entanto não estou vivo] são as palavras desenhadas numa tela de pequeno formato, a preto e branco, que dá título à exposição, com um grafismo a que a mão de desenhador exímio nos habituou. A escrita enquanto desenho, a destruição da mesma, o valor simbólico e assustador de todas as imagens e textos que nos rodeiam – a publicidade enquanto ordem vigente e manipuladora – são motes do trabalho de desenho e pintura de João Belga também presentes nesta exposição.
“Contaminação” é a palavra escolhida pelo artista para falar das obras aqui apresentadas. Trabalhos contaminados pelo período de 2020-2021, pelos sucessivos confinamentos, pelo medo, a falência e o caos que todos experimentámos colectivamente.
O artista recolheu-se ao seu espaço de trabalho (nas Caldas da Rainha), onde foram aparecendo três séries de pinturas de pequeno formato. Podíamos dizer, não tanto como uma reacção aos conturbados tempos vividos, mas como uma extensão dos mesmos. Nestas séries a densidade, a escuridão, o caos (falso caos) são tais que parece que o artista não só foi contaminado pelos tempos, mas que no seu papel de xamã, contaminou ele mesmo o mundo e que, ao deixarmo-nos envolver pelos seus trabalhos, caímos numa terra sombria e sem redenção.
Isto à primeira vista, porque as três séries de pinturas (duas a negro sobre o fundo branco, e não trabalhado, da tela e uma a branco sobre fundo pintado a negro), embora todas “contaminadas” dão-nos diferentes pistas:
Na Paleta Series, pintada muitas vezes com desenho automático, podemos distinguir letras, caveiras, restos de desenhos muito precisos, que foram sendo destruídos e transformados por sucessivas e densas camadas em diferentes tempos, bem como pelo facto de o artista usar algumas destas telas como paleta para outros trabalhos. Estes perduraram e dão-nos algumas respostas e alguma redenção se repararmos nos títulos, como é o caso de “White Light from the Mouth of Infinity” (título do álbum de 1991 dos Swans) ou de “On Some Faraway Beach” (título retirado do álbum Here Come the Warm Jets de Brian Eno). Na série Luz Negra a densidade do ruído desapareceu, mas fica o engano que nos leva a ver caracteres, falsos símbolos e até paisagens. A terceira série é toda ela menos tumultuosa, desenhada a partir de modelos e com composições claramente definidas, o que estranhamente não nos deixa num mundo menos sombrio do que as anteriores. Há ruído, há música e há humor.
Também encontramos esta relação com a música, que é uma força no trabalho de João Belga, na tela branca que partilha o título I’m Alive – Yet I'm Not Alive, um palimpsesto cujas noventa e uma camadas vão sendo lentamente desvendadas, como se se tratasse de um slide show das pinturas que compõem esta obra, no vídeo que o artista apresenta em simultâneo. A tela é um objecto conceptual e absolutamente contemporâneo, com a força mágica daquilo que está escondido. O vídeo, que mostra aquilo que foi tapado na tela branca, tem um tempo que não só nos permite ver cada uma das imagens aqui escondidas, como nos hipnotiza e manipula. Criado pelo colectivo DAS COOL ensemble, do qual João Belga faz parte, o som que envolve toda a exposição serve de banda sonora ao seu trabalho de atelier, tornando-nos ao mesmo tempo espectadores e artistas.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja.
Vistas da exposição I'm Alive Yet I'm Not Alive de João Belga
© Adriana Molder
Maria Condado
O Banho
de 28 de Outubro a
3 de Dezembro de 2021
Abertura dia 28 de Outubro das 15h30 às 19h
Maria Condado (1981) é a artista da sexta exposição da Galeria da Casa A. Molder.
O Banho é o título da pintura de grande dimensão, concebida para o espaço da galeria, que dá também nome à exposição.
Sobre O Banho, escreveu Maria Condado :
“Ao contrário do mito grego onde a deusa Artemisa (deusa da caça e dos animais selvagens), ao tomar banho com as ninfas, é surpreendida pelo olhar furtivo do caçador Actéon, na Galeria da Casa A. Molder esta figura prepara-se calma e solitariamente para o seu banho, como se vivesse num tempo suspenso antes de uma qualquer acção, ou de um qualquer ataque. Também o interior desta loja na Baixa de Lisboa aparenta viver num tempo suspenso, enquanto no seu exterior o mundo, onde todos somos caçadores, muda freneticamente.
Para esta exposição Maria Condado quis pintar uma única tela de grande formato. O tema das banhistas, neste caso a banhista, foi o seu mote. É um tema clássico da pintura ocidental, e faz-nos pensar em Artemisa, Diana, Vénus ou Susana. Só que não é certo que esta figura se vá banhar, pode mesmo dizer-se que tudo que a rodeia é mais vivo – uma espécie de confusão organizada que pertence àquilo que está vivo, um rodopio de ideias, de paisagens, de símbolos, ou, segundo as palavras da artista, “uma paisagem onírica, habitada por animais, forças e abstracções”– do que a Baigneuse, que é uma silhueta branca e não trabalhada. Também não é absolutamente certo que este contorno seja o de uma mulher, embora intuamos que seja a própria artista.
Os quatro elementos estão bem presentes nesta pintura, embora não representados duma maneira óbvia ou directa. Dir-se-ia que o banho é de terra e de ar e não tanto de água.
Nesta tela pintada a óleo e acrílico, Maria Condado oferece-nos várias “maneiras” de pintar e de desenhar. Este tipo de construção pictórica, que pode dar azo a muito equívocos, permite-nos entrar em O Banho por muitas frentes. É certo que o trabalho desta artista traz-nos habitualmente a paisagem, mas, aqui, encontramo-nos perante uma figura humana envolta numa paisagem, que é ao mesmo tempo delirante e absolutamente tranquila.
Há ainda um olho que vem da terra ou do tronco de uma árvore, será que é Actéon? Ou será que somos nós que observamos a banhista, a pintora, com o seu mundo escancarado à mercê do nosso olhar? Portanto, não nos enganemos: a força desta silhueta, absorta no pensamento duma acção perante a água, acaba por agarrar todo este delírio paisagístico, todos estes símbolos e toda a nossa capacidade de interpretação.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja.
Francisco Tropa
Polaris
de 16 de Setembro a
22 de Outubro de 2021
Abertura dia 16 de Setembro das 15h30 às 19h
Francisco Tropa (1968) é o artista da quinta exposição da Galeria da Casa A. Molder.
Polaris é o nome da sua escultura, que dá nome à exposição.
Polaris é o nome científico da Estrela do Norte ou Estrela Polar, a estrela que parece fixa enquanto as outras andam à sua volta, a estrela que orienta os navegantes quase desde sempre, a estrela que nos orienta.
Num primeiro olhar, a escultura de Francisco Tropa parece em nada nos orientar, tal é o espanto que este objecto com forma irregular, face de muro, avesso de nuvem ou de barro, que emana luz, nos provoca. Aqui, o buraco no muro não serve para espreitar, mas sim para irradiar luz. A luz intermitente é uma força hipnótica e fria que confere brilho à escultura, mas também nos ofusca.
Pode dizer-se mesmo que Polaris, jazendo no seu plinto pintado, como se fosse a continuação da parede, exposto tal como um artefacto caído do céu, nos confunde: É aquele pedaço de muro leve ou pesado? É feito de barro, de cimento, de bronze?
Será um adereço que pertence a uma peça, cuja grandeza nos transcende, pois é a própria vida? Irá ali ficar em permanência, enquanto nos rege por um compasso luminoso, lembrando-nos que a arte não poderá nunca ser explicada, mas sim respondida?
Nas palavras do artista, a resposta é um poema de John Keats:
“Bright star, would I were stedfast as thou art”
Bright star, would I were stedfast as thou art—
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors—
No—yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever—or else swoon to death.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja. O espaço da galeria está limitado a 3 pessoas.
BÁRBARA FONTE
Pústula
de 8 a 30 de Julho e
de 1 a 10 de Setembro de 2021
Abertura dia 8 de Julho das 15h30 às 19h
Bárbara Fonte (1981) é a artista da quarta exposição da Galeria da Casa A. Molder.
Pústula é o título do vídeo, realizado para o espaço da Galeria, que dá o nome à exposição. Este vídeo, que começou com uma vontade da artista de “trazer o mundo rural (Bárbara Fonte tem o seu atelier em Paredes de Coura) ao centro da cidade”, depressa se transformou, como é habitual nos seus vídeos, numa narrativa pessoal em que o quotidiano de um corpo (sempre o da artista) vai desenvolvendo através de diversas acções, que lhe parecem ser inatas tal é a intimidade que sentimos entre o corpo e a câmara, a construção de um tempo.
Nestas acções, podemos distinguir a alegoria, os rituais religiosos, a desconstrução de imagens cinematográficas, o amor que a artista tem à pintura ocidental do final da Idade Média, a sensualidade, entre outros. O léxico visual de Bárbara Fonte é muito preciso; assim são os seus adereços, que ela mesmo constrói e com os quais convive no seu espaço de trabalho, uma espécie de gabinete de curiosidades. Eles são mantidos em pequenas vitrines, todas elas cheias de objectos inspiradores e poéticos.
Em Pústula, a solenidade nas acções filmadas de Bárbara Fonte é por vezes levada ao cómico, como faz um palhaço sério. Do acto solene jorra uma gargalhada. A gargalhada é libertadora, mas deixa-nos vulneráveis e revela a força da artista. Pode dizer-se que o trabalho de Bárbara Fonte vomita, enquanto arranca e vira do avesso a norma, para além de oferecer uma estranheza e uma crueza visual desconcertantes.
Assim são também os seus desenhos, apresentados nesta exposição, feitos a pincel com tinta-da-china sobre papel canson, onde bocas sorridentes se misturam com formas quase sempre orgânicas, onde vemos aquilo que queremos ou conseguimos ver: de úteros a ursinhos de peluche, naturezas mortas, vulvas, entre muitas outras coisas. Feitos a partir de memórias ou de pequenos modelos existentes, são de certo uma parte importante do trabalho desta artista, que tem o Desenho como disciplina central do seu trabalho, incluindo os seus vídeos e as suas fotografias.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja. O espaço da galeria está limitado a 3 pessoas.
RUI CHAFES
Início permanente
de 28 de Maio a 2 de Julho de 2021
Abertura dia 28 de Maio das 15h30 às 19h
Rui Chafes (1966) é o artista da terceira exposição da Galeria da Casa A. Molder.
Início permanente é o título da escultura em ferro que dá nome à exposição, e foi criada para o espaço da galeria. Segundo o artista, "Início permanente é o tempo em suspensão onde a vida e a não-vida, a morte e a não-morte, encontram a sua origem, o seu ponto de partida."
A escultura em ferro jaz no chão de madeira, na penumbra. É a forma feminina da origem do mundo, mas é escura, pesada e não sabemos se traz com ela a vida. Pode ser um crânio putrefacto dentro duma armadura que brota da terra, tal como uma semente germinada, uns dias depois da batalha. Há a esperança que talvez seja um portal, uma sombra que nos leve para um outro mundo ou, melhor ainda, que nos traga de volta a este.
O trabalho de Rui Chafes é deste mundo. É de fogo e é em ferro. O escultor que trabalha em séries, que se prolongam no tempo, e vê as suas esculturas como sombras, acredita que a origem da arte foi a tensão entre o sagrado e o profano e que devemos saber qual o nosso destino na terra. Com Início permanente, traz-nos uma nova escultura e, assim, mais uma expansão da linguagem da arte.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja. O espaço da galeria está limitado a 3 pessoas.
ANA CATARINA FRAGOSO
As Montanhas Por Entre Os Dedos
de 22 de Abril a 21 de Maio de 2021
Abertura dia 22 de Abril das 15h30 às 19h
A segunda exposição da Galeria da Casa A. Molder traz-nos o trabalho de
Ana Catarina Fragoso (1984). Segundo a artista, “As Montanhas Por Entre Os Dedos” – o título da exposição – “é uma instalação de pintura idealizada para o espaço da Galeria da Casa A. Molder. É um movimento entre duas paisagens dunares, onde é dia e quase de noite e caminhamos do mar para a terra.”
Há um confronto nestas paisagens, uma de areia, outra com vegetação, em dois momentos muito particulares no tempo, o dia pleno e a incandescência do cair na noite. A luz do dia que cega e o entrar na penumbra que, ao invés de cegar, nos leva a ver, por um momento escasso, um turbilhão de cores e memórias. É um confronto entre a aridez e a abundância, entre o metal e o papel. Sendo que a aridez moldável da representação das montanhas de areia, erótica, naquela luz plena, fixada na solidez do metal, nos pode levar a vaguear. Já a abundância da luz que se extingue, fixada na leveza do papel, é um espectáculo que nos obriga a permanecer ali.
São pinturas, são representações de paisagens escolhidas por Ana Catarina Fragoso. A artista encontra os seus modelos nos passeios que faz com a sua máquina fotográfica e com esse mesmo intuito. Depois, num ecrã luminoso, os seus dedos ampliam essas mesmas paisagens, até ao encontro de cores imperceptíveis a olho nu e destreinado. Pintadas no chão, com acrílico, na horizontal, uma sobre metal e outra sobre papel, estas pinturas inéditas encontram aqui, no espaço da galeria da Casa A. Molder, e na sua posição final, vertical, um confronto e uma nova convivência com o nosso corpo e com o nosso olhar.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja. O espaço da galeria está limitado a 3 pessoas.
Vistas da exposição As Montanhas Por Entre Os Dedos de Ana Catarina Fragoso.
GUSTAVO SUMPTA
Luto
de 19 de Novembro de 2020
a 8 de Janeiro de 2021
Abertura dia 19 de Novembro das 15h30 às 19h
A Galeria da Casa A. Molder inaugura com a exposição Luto de Gustavo Sumpta (1970).
Luto é o título da escultura efémera que foi realizada especialmente para as salas da Galeria da Casa A. Molder e que dá o título à exposição. A escultura envolve e limita o espaço, propondo uma interacção atenta com o espectador. Nas palavras do artista, que usa frequentemente como material das suas esculturas fita de cassetes de VHS, um material de registo magnético obsoleto: “Esta escultura é apresentada como se do resíduo de uma performance se tratasse. Elogia-se o movimento contínuo e repetido. Aqui o Luto é a metamorfose do pranto”.
A exposição estará aberta ao público durante a semana, no horário da tarde da Loja: das 15h30 às 19h, e aos fins-de-semana e Feriados por marcação. A entrada para a Galeria faz-se pela loja.
Covid-19
Obrigatório o uso de máscara e desinfecção das mãos à entrada da loja. O espaço da galeria está limitado a 3 pessoas.
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